the land of confusion

verdade oculta em mim


Prescindi de levar os brincos que me ofereceste.

Ainda a meu lado estavas tu, quando da cama me levantei e na minha firme silhueta zizazeguiei de um lado para o outro, e tu na cama te envolvias pelos lençóis, num sonho tão profundo quanto o oceano mas desta vez era diferente... nesse teu sonho eu não subi ao palco. Não porque não me elegesses como protagonista principal ao teu lado, mas simplesmente porque me recusei.
Por que o fiz não sei.
Embebida nos meus pensamentos, perdi-me em devaneios que outrora matavam-me a fome que um dia senti por ti. Mas a questão é, porque é que todas as noites acordo e derivo no nosso quarto, estando tu ausente... tão presente nesse teu sono insolente que sempre criou um dos impasses face ao nosso sentimento?
Recuso-me a pensar, que tudo fora em vão - pálida e rígida, do frio que penetrava agora pela janela entreaberta - levantei-me da beira da nossa cama, vesti uma das tuas camisolas, que por sinal ficavam grandes na minha estatura minúscula quando comparada com a tua. Fechei-a. Mas não pude deixar de reparar, que lá fora chovia.
Era triste, como toda a névoa exterior assaltava-me agora, o meu interior.
Sentei-me novamente, aconcheguei os braços às minhas pernas arrepiadas e olhei o teu rosto minuciosamente.
Como continuavas a ser belo na tua condição, adormecido a viajar. Por onde não sei, mas sei que na minha companhia não era. Recordava, quando no teu rosto me foquei, todas as circunstâncias por que passamos, todas as lutas que travamos, todas as vitórias que conquistamos e o amor que nutríamos um pelo outro...
"In my place, In my place"...
Interrompi-me, atónita. De onde veio isto?
"Come back to me... come back now"...
Perplexa fechei os olhos e mentalmente ouvia toda a melodia.
Afastei-me daquele lugar. Trazia-me uma espécie de melancolia impregnada na ferida encostada ao meu peito. Na luz terna, na luz suave, avistava-te. Acordado, ao longe, tão longe que quase os meus olhos não te alcançavam. Deslizei as minhas mãos procurando as tuas... procurando as respostas que, de nenhuma maneira, as obtive.
Num movimento em câmara lenta, abri outra vez os olhos. E ali continuavas tu, deitado na nossa cama sorrindo no teu sonho longe de perceberes todas as minhas noites em claro.
No fim de tantas corridas sem alcançar metas, o sol rompeu pela minha janela a dentro. Iluminando o mínimo pormenor escondido por entre os meus artefactos, arrumados ou desarrumados. Entretanto... caí em mim. Era manhã e a palavra "nós", os termos conjuntos, os pronomes que enunciavam um plural desapareceram. No meu quarto, apenas me encontrava eu, as minhas coisas, os meus sonhos, as minhas ilusões, as minhas perdas, as minhas desilusões e um desconhecido com quem dormi, apenas por uma noite.

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