
Vagueio na rua dos teus pensamentos, invadida pelos teus sentidos. Sinto-me perdida entre tantos devaneios que deslizam como seda, na pele fria que jaz no planalto do sonho remoto que um dia sonhamos juntos.
Inocente criatura que me persegue, no dia chuvoso que insiste em assombrar-me com memórias de tempos verdes que floriam na dura calçada. Como era bom, poder novamente atravessar, junto de ti, no areal que percorre a costa rochosa. Assistir à glória do véu lunar devorar aos poucos o raiar luminoso deste sol que desenhaste tão jubilosamente comigo.
Hoje olho as estrelas, incompleta na minha razão de ser. Já não fluí a escrita como antes fluía. As palavras tornaram-se inconsistentes, a tinta tornou-se dura, tão dura como a dor da perda. O sol já não nasce, da forma milagrosa com que nascia, a lua não passa nem um quarto da magia que transmitia, quando na noite escura me vinhas puxar o lençol e ficavas, impávido e sereno a observar o meu sono. Somente a observares-me atentamente, enquanto em ti sonhava. Ali estava eu, no meu sono princesa, a observar a tua realeza a observares-me, como se a tua vida disso dependesse.
Espessa é a barreira, que o firmamento criou entre nós, nas púrpuras mensagens lineares implícitas por entre desejos e véus de ternura, que não passam somente disso. Doces desejos tecidos na alma de quem ninguém é sem se ser sem ti.
É uma realidade instransponível e indicifrável, este amor proibido que prolifera somente na região norte deste morto coração, que bate letalmente ao pensar na tua pessoa. Naquela tão bela figura que continua a planar no halo do tempo, por entre criações imagéticas criadas no além.
Somente gélida arrefeço em nada, na terra de ninguém sobreposta à falsa realidade que paralelamente alimento ao lembrar-me do amor morto por ti. Um punhal bastou, para cessar o calor que deste gélido coração processou, por tanto amar penou.
Ardo de saber, que na tua frieza indiferente, não passei de semente no chão, de onde nada brotou. Condicionaste-me da maneira de que hoje sou, feita de limites e percepções. Longe de mim ser, o que sempre fui, desejo imanente que só por sim é desejo, daí não passa, infelizmente, nunca mais passará. Amargo paladar que me deixaste, sem sequer me devolveres a parte da alma que crucificaste em ti. Fui somente, um anexo, por entre muitos outros anexos.
O teu rosto persegue-me, no vale do mundo, quando sozinha me encontro. O teu rosto de mil e uma facetas, todas elas mistificadas para sempre. Pois nunca ganhei a aptidão suficiente, para te dissolver e descobrir quem tu, realemnte eras. Um jogo sem vitória. Um completo trajecto sem destino. Por aí me fiquei. Perdida sem destino, presa no teu destino. Confusão que me embala, quando forte as lembranças tuas me abarcam e me trazem no abismo fundo que é um dia eu ter-te amado, da platónica maneira que te amei.
Sem comentários:
Enviar um comentário