
Foi para isto que me chamaste, para dizeres que o nosso amor não passou de uma primavera morta que foi desterrada em pleno e rigoroso inverno, que por entre a chuva me sacode e impede de abrir os olhos e ver o que não está lá.
Perdoa-me se não consegui traçar cada detalhe do teu rosto, se cada linha não tem sentido e se cada compasso do ritmo do meu coração está descoordenado, é o bem ou o mal que me fazes, já não sei... não sei para onde me virar para te procurar. Angústia a incidir no meu peito, a arder a minha voz que lentamente, muito lentamente, mais lentamente do que alguma vez pedi, o teu nome doí no ver de crer.
São as aspas que não fechaste, que eu ainda procuro terminar, mas algo me disse, algo me sussurrou que tudo foi apenas uma onda do mar, passageira mas violenta, que remexeu todos os pormenores redundantes e não redundantes da minha pobre alma colhida de ti mesmo, ferida de tanto amar.
A nostálgia abraça-me vezes sem fim, quando pairo à beira rio, à procura de algo teu em tudo o que vejo e não toco, da natureza que não me pertence e nunca pertenceu. Lá no fundo, bem no fundo perto da linha imaginária vejo o horizonte perdido que um dia desenhei perfeitamente onde o céu toca o mar. A tua mão na minha, a flutuar, por entre a embriaguez da nossa perdição. São a tinta que tingiu todos os vestígios da tua presença... ainda sinto a tua inércia a exercer sobre o meu pescoço, os teus lábios que fazem fluir o silêncio, da chama de quem chama paixão.
Perdoa-me se disse o que querias ouvir, se te tornei cristal ouro de barro feito de sangue, que corre em mim. Perdoa-me. Perdoa-me por não saber o que fiz, para que aqui me deixasses sem terra, sem chão, sem sequer coração. Dar-te-ia tudo, uma mais vez, se soubesse que a pena valeria. Arrancar minha alma e o perdão, que num embrulho pobre de feição, te entregaria de doces modos, para que do teu jeito o olhasses e dissesses que o arrependimento, doí e marca. "Perdoa-me meu amor, por me teres perdoado."
Perdoa-me o bem que te fiz, se de mal entendeste.
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