the land of confusion

the memory remains

A indescritível sensação de vazio invade-me sorrateiramente, como o pó que se balança juntamente com as cortinas ao vento, do quarto de paredes brancas que um dia foi nosso.

Descanso sobre os lençóis desta velha casa, na cama de madeira junto à mesa de cabeceira onde repousa o cinzeiro que em dias remotos estava atolado de cigarros. Hoje, e somente hoje, viro-me de barriga para baixo, abraço-me à almofada e olho pelo pequeno rasgão da cortina, e vislumbro o acesso rápido que tenho das boas recordações que passamos. Eras tu desatinado à procura das calças no soalho frio e escorregadiu do quarto, era eu a mandar vir contigo porque mais uma vez rasgaste uma das minhas camisas, eras tu novamente sentado no chão a fumares um cigarro e a escrever qualquer coisa no teu velho bloco de notas. Perguntava-te inúmeras vezes o que tanto te faria escrever nesse bloco, e tu nunca saciavas a minha curiosidade, o que me tornava cada vez mais ansiosa.
Um dia, enquanto estavas a tomar banho, vasculhei a gaveta onde guardavas as tuas coisas, e lá estava o bloco que tanto fomentava em mim uma curiosidade abismal. Cuidadosamente, repuxei o elástico que o prendia e minuciosamente passava folha a folha, com todo o cuidado. As folhas tinham um aspecto velhíssimo, um aspecto frágil, uma cor tipo sépia e estava repleto de borrões, riscos e rasgões, apresentava também queimas devido ao cigarro.
O tanto que li emocionou-me.
Não me cansava de ler o que para ali tinhas escrito. A tua letra desajeitada estava carregada de emoção e sentimento... continuei a ler até que encontrei uma página em branco.
Guardei o teu bloco novamente na gaveta, enfiei-me na cama e comecei a brincar com um fio que me tinhas dado de presente de aniversário.
De toalha em volta à cintura e de cabelo molhado vieste ao meu encontro e perguntaste-me qualquer coisa, que não me recordo.
Os dias foram passando, até que esqueci o conteúdo vazio daquela página.
(...) de repente retornei à monotonia dos meus dias, e vi que estava deitada na cama naquele quarto vazio... tal e qual como aquela página que deixaste por escrever.

1 comentário:

.G disse...

Obrigado. Mas deixa-me dizer que é sempre bastante bom ler posts como os teus, dotados de uma imensa aprazibilidade :)

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