the land of confusion

just like the other night, but different

A noite estava cerrada, tal e qual aquela que nos marcou não há tanto tempo como julgávamos. Era inverno e o frio consumia o nosso corpo, mesmo que no carro estivesse quente.
Num pranto e incalculavelmente, o motor do carro deixou de funcionar, a neve lá fora caía de rompante e mesmo assim, vestiste o teu casaco e foste desafia-la para veres o que se passava com a maquinaria do carro. Demoraste dez minutos lá fora. Eu lá de dentro, remexia nos meus pensamentos, brincava com o meu cabelo, embaciava o vidro e lá desenhava símbolos sem qualquer sentido até que entraste novamente, percebi pelas tuas feições que estavas chateado, muito chateado. Perguntei-te "então, já sabes o que se passou?", num tom insolente me respondeste "esta merda deu o berro e não há nada que eu ou tu possamos fazer!", um momento de silêncio criou uma certa distância entre nós, até que um "desculpa", quase engolido pelo barulho do vento lá fora, saiu da tua boca. "não tem mal", respondi-lhe eu "és o meu melhor amigo, já estou habituada a que me trates desta maneira".
Quase obssecado com o teu erro pousaste a tua mão sobre a minha, chegaste-te o mais perto que pudeste e começaste a contar qualquer coisa sobre o que sentias... ao inicio não me apercebi de quem estavas a falar, mas depois de algum tempo apercebi-me que a tal rapariga de que falavas era eu.
No fim do teu longo discurso resumiste-te ao silêncio e olhaste-me nos olhos, tão profundamente como nunca antes o havias feito. Por momentos, o meu cérebro não respondia a quaisquer estímulos, na minha mente apenas esvoaçavam todas as palavras que havias proferido... preocupado com a minha reacção disseste-me "por favor, diz-me alguma coisa", ao mesmo tempo que disseste isto, tiraste o cachecol que circundava o teu pescoço, despiste o teu casaco. Eu examinava-te detalhadamente... estou tão confusa.
(...) horas e horas se passaram, era de madrugada e continuávamos num silêncio tão profundo como aquele que reside no tecto do universo até que, saí do carro, dei-lhe a volta e entrei pelo lado do condutor onde estavas tu sentado, admirado com a minha acção ias perguntar-me qualquer coisa... mas eu interpelei-te com um beijo. Um beijo terno, profundo, o melhor que alguma vez recebi ou dei. Puxaste-me para dentro. (...) o sol rompeu o prado, a neve havia parado de cair, e ali estávamos nós, no banco de trás ensonados e perplexos com o que se havia passado. "és o meu melhor amigo, independentemente de te querer comigo sempre de todas as maneiras" disse-te, ao que me respondeste "nunca te considerei só a minha melhor amiga... és e sempre foste muito mais que isso, amo-te".
(...) passado todo este tempo... tudo mudou, e a noite cerrada que enfrento hoje, enfrento-a sozinha.

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