Quando era criança, sonhava em ser pirata. Cheia de tranças no cabelo, o lenço na cabeça, o chapéu de capitão, a famosa espada e como não poderia deixar de ser as pendurezas: brincos, aneis e colares.
Eu não sonhava só por sonhar, nessa altura o ser pirata era entrar num mundo de fantasia e de brincadeira, onde tudo era mais fácil e não havia responsabilidades e as únicas consequências que tinha eram as feridas físicas, nada mais.
Hoje, enfrento dificuldades como nunca pensei. Perdi tantas batalhas, ganhei pouca coisa e sempre que posso tento vencer com ousadia.
Quando o instante invade o meu espaço e exije que eu reflicta, eu vou para a janela e olho para o céu estrelado, a lua cheia e para o imenso mar. Penso que pela minha vida já passou tanta gente, já tive tantos momentos... que perdi.
Deixem-me fazer as perguntas que nunca fiz. O porquê de tudo isto ser assim, tudo tão diferente de quando eu era ingénua e feliz criança.
Fizeram com que acreditasse demasiado rápido, o tempo avançou e fez de mim o que sou. Serei eu, um peixe fora do mar ou uma ave mas sem asas?
Sou enraizada ao passado, isso faz-me ter medo de avançar. Quero ser uma eterna criança, quero tudo o que me furtaram, de volta. Quero a minha paz, a minha ingenuidade, a minha forma de ver o mundo.
Tiraram-me a minha visão, foi como me tirarem os lápis de cor quando estava a pintar o meu grande livro de colorir.
Levaram para longe de mim a minha inocência, deixei de ser criança cedo demais, e agora, o tempo não volta atrás. Tanto que queria fazer, tanto que não fiz, agora só posso imaginar o que queria fazer. É indecifrável, turvo.
Agora para mim, o mundo tem outro tom.
Em tempos fui pirata, a minha eterna criança; hoje sou uma mente sonhadora, inalienável.
Vejo filmes do passado, minunciosamente os observo e lembro-me como estes me faziam viver cada minuto. Histórias fantásticas, a minha infância.
Se alguém me perguntasse se queria fazer alguma modificação eu diria que não, pois tive uma infância muito feliz, os meus pais proporcionaram-me tudo do bom e do melhor.
Sem dúvida que sou perecível. Já tive e fui de tudo, agora espero pelo momento peremptório de ir para outro lugar. Esse sim, perene e perpétuo.
Soraya Morais
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